Uma resolução da FINA relativa a atletas trans reacendeu o debate sobre as implicações fisiológicas do tema no esporte. Conforme a nova decisão, somente atletas trans que completaram a transição antes dos 12 anos, período de início da puberdade, podem competir contra mulheres cis, desde que mantenham um nível de testosterona de 2.5 nmol/L no sangue.
Aqueles que não se enquadram nessas diretrizes terão uma nova categoria separada para competir. É importante notar que essas regras não se aplicam a homens trans, que podem continuar competindo sem restrições.
O professor de endocrinologia da Universidade São Camilo, Leonardo Alvares, em uma entrevista à CNN Rádio no programa CNN No Plural+, explicou que, até então, as associações esportivas seguiam as orientações do Comitê Olímpico Internacional (COI). No entanto, o próprio COI recomendou que cada federação esportiva desenvolvesse suas próprias regulamentações para atletas trans.
Alvares observou que essa orientação da FINA reflete uma tendência em direção à individualização do esporte, levando em consideração as especificidades físicas de cada modalidade. Ao mesmo tempo, ele considera que a decisão da FINA é prematura, pois a fisiologia do esporte ainda está em estágios iniciais de pesquisa relacionada a indivíduos trans submetidos a hormonioterapia e bloqueio puberal.
O especialista destacou que os dados atuais indicam que a massa muscular de mulheres trans que passaram pela puberdade masculina e iniciaram a hormonioterapia apresenta uma diminuição, mas não atinge os níveis de mulheres cis. Isso sugere a existência de um “nível intermediário” em termos de capacidades esportivas, abrangendo massa muscular, força e capacidade cardiopulmonar.
No entanto, Alvares também abordou o desafio da avaliação de crianças e adolescentes que podem ser trans, enfatizando que é uma tarefa complexa. Ele expressou preocupação em relação ao ponto de corte da idade aos 12 anos, pois antecipar uma decisão tão importante pode ter consequências a longo prazo. Além disso, considerando que o acesso a serviços de saúde para crianças e adolescentes antes dessa idade é difícil, a decisão pode ser ainda mais complexa.
Diante dessas complexidades, o médico defendeu a inclusão de profissionais de bioética e direitos humanos na tomada de decisão, enfatizando a importância de considerar o ser humano em vários aspectos. Ele também instigou os profissionais de saúde ligados ao esporte a desenvolverem mais estudos para fundamentar as decisões das federações esportivas.